sexta-feira, 20 de maio de 2011

Entrevista a Júlio Amândio

Júlio Amândio é o sócio número um do Remo Clube Lusitano. O setubalense de 31 anos, é considerado pela família Lusitana como o principal impulsionador deste projecto. Chegou o momento de lhe fazer algumas perguntas.

O que te levou a fundar o RCL?

Desde que comecei a remar que ouvia ideias sobre o nascimento de projectos como o Remo Clube Lusitano. No entanto, a grande maioria desta ideias nasciam de motivações que considero erradas ou destrutivas. Nunca ouvi ninguém dizer que queria fazer nascer um projecto para ajudar, colaborar ou construir. Por outro lado durante anos ouvi dizer que, "um dia se fazia um clube" porque tudo o resto estava mal. No fundo o desejo de criar algo existe em todos nós, muitas vezes apenas travado quando nos apercebemos que fazer dá trabalho (e muito). No entanto, com o decorrer dos anos, um conjunto de circunstancias convergiu para que o Remo Clube Lusitano se torna-se um projecto credível e fundamentado. Como sócio número 1 e um dos impulsionadores deste projecto, sinto-me em posição de enumerar as causas e pontos de partida deste projecto: em primeiro lugar existe uma base humana, com formação, e uma ideia clara e bem definida sobre os objectivos e estratégias que pretendem para o clube. Em segundo lugar, existe uma liderança de confiança e experiência na modalidade única no nosso país, liderança essa que a nível directivo define as linhas de orientação do clube que acabam dar sentido ao meu trabalho como vice presidente e responsável pela parte desportiva, havendo dentro do clube um respeito enorme pela presidente Vitória Costa Lima, quer pela pessoa que é, quer pelo que representa para o remo nacional. Em terceiro, todo este projecto é amadurecido ao longo de anos de experiência como atleta, treinador e dirigente, surgindo numa altura chave da vida dos sócios fundadores de uma forma tão natural como ideal. Inicialmente (2009) o projecto começa a ser falado onde juntamente com um grupo de pessoas interessadas surgem os primeiros passos. No entanto o projecto não avançou de imediato e acabei por ser contratado como treinador pela Federação Portuguesa de Remo para trabalhar com a equipa nacional. Naturalmente, a falta de tempo e a incompatibilidade de funções atrasaram o projecto que na altura estava em fase de construção. No entanto, alguns meses depois (inicio de 2010), por questões de saúde, tive de abandonar o cargo. Foi nesta altura que um grupo de amigos ex-remadores de Setúbal, Porto e Coimbra me apoiaram no que seria o nascimento do Remo Clube Lusitano. Embora numa fase da vida difícil, quer por questões familiares, quer por questões de saúde, o projecto avançou e talvez por ter nascido numa fase tão importante a nível pessoal tenha ganho alguma magia. A fundação do clube deu-se a 2 de Março de 2010.

Quais os objectivos do RCL?

Os nossos objectivos estão muito bem definidos e registados. Os projectos estão já concluídos o que torna possível todos saberem para onde vamos. As áreas prioritárias para o Remo Clube Lusitano podem ser agrupadas em três grandes grupos: 1-criação de escolas de remo jovem; 2-tornar a prática de Remo acessível à população através de diferentes projectos; 3- criar protocolos com diversas instituições. Embora pareça simples quando agrupamos nestas três categorias os objectivos do Remo Clube Lusitano, podemos decompor cada uma delas em muitas sub categorias. É por este motivo que o primeiro ano do RCL foi recheado pela construção de vários projectos em cada uma destas áreas, que hoje estão prontos a ser implementados e que abrangem aspectos como o combate ao sedentarismo, a luta contra a obesidade e a promoção do desporto e da actividade física não apenas numa prespectiva competitiva mas também como meio para uma vida mais saudável. Esta estratégia não quer dizer que ignoramos a competição desportiva e o alto rendimento embora, numa primeira fase, passe essencialmente por alargar a base de praticantes e a formação e informação desportiva. Desta forma, acreditamos a longo prazo alcançar melhores resultados, não só no Remo, mas sim em todas as modalidades e em geral melhores condições de vida e níveis de actividade física da população da região.

Qual o teu percurso como atleta?

O meu início foi na natação e na ginástica desportiva. Aos 10 anos comecei a remar um pouco por engano e confesso que em determinadas alturas desejei abandonar por me sentir um pouco só na modalidade que já por si era muito exigente. Hoje como pessoa do desporto compreendo porque quis abandonar no início e reconheço que ao longo da minha carreira vi muitos jovens deixar o desporto pelos mesmos motivos. No meu caso a minha mãe não deixou...
Posso dizer que nunca fui um atleta de topo, embora considere hoje que fui um atleta modelo para os jovens atletas de hoje. Embora não tenha nascido com uma genética favorável à modalidade que acabei por escolher, era um atleta bastante trabalhador e dedicado embora desse pouca importância aos detalhes o que me fez perder algumas regatas mas aprender de uma forma um pouco mais dura. Muito do que sei aprendi da forma mais difícil. Integrei trabalhos da equipa nacional em vários escalões de forma regular (juvenis, juniores e séniores) embora tenha acabado por ficar de fora muitas vezes. Tive a honra de alinhar lado a lado com campeões Olímpicos (na altura os suíços irmãos Gier em 2xHPL), de vencer regatas fora de Portugal, inclusivé vencer a própria selecção nacional em regatas onde representei o clube após ter sido excluído da equipa nacional, e de vencer vários títulos nacionais em diversos escalões. No início também tive a oportunidade de ser timoneiro várias vezes, o que me fez aprender bastante sobre a modalidade. A minha carreira de remador acabou prematuramente devido a lesão embora tenha regressado à competição no escalão de veteranos mais tarde. Passei por outras modalidade. Corri muitas meias maratonas e até uma maratona. Nadei várias "travessias" em águas abertas. Competi uma época em Taekwondo, e ensinei Aikido durante alguns anos, modalidade onde cheguei a fundar algumas escolas (em Pinhal Novo, Gavião e Rio Maior onde ainda hoje se continua a ensinar a modalidade após quase dez anos da sua fundação!). Hoje tento acima de tudo transmitir, através do exemplo, ao meu filho, que o importante é praticar desporto e aproveitar ao máximo os momentos e ensinamentos que dele podemos retirar.

Qual a tua formação e percurso como treinador?

Sou licenciado em Treino Desportivo pela Escola Superior de Desporto de Rio Maior. Também concluí uma Pós Graduação em Psicologia do Desporto e da Actividade Física. Como treinador de Remo tenho actualmente o grau 2 em formação realizada através da British Rowing (Federação de Remo de Inglaterra). Ao longo das diferentes fases de formação a minha visão como treinador tem sido bastante modificada, facto esse que me estimula para continuar a fazer uma formação continua. Passei pelo Clube Naval Setubalense, 2 épocas, pela Associação Académica de Coimbra, 2 épocas, onde vencemos o Ranking Nacional de Clubes nos dois anos (o que nunca tinha acontecido antes) e após este período fui convidado a trabalhar com a equipa nacional. Entretanto a minha actividade de treinador sofreu uma pausa como referi anteriormente. Ao longo do tempo tenho recebido alguns convites de clubes nacionais e estrangeiros alguns deles bastante tentadores. Confesso que tenho saudades!

Quais são as dificuldades que o RCL tem encontrado?

A principal dificuldade que o RCL tem encontrado é a de encontrar um espaço físico para desenvolvimento das actividades. Atrevo-me mesmo a dizer que neste momento temos apenas uma dificuldade. Tudo o resto se faz com trabalho.

Quais são as mais valias que o RCL pode trazer ao Remo e ao desporto Setubalense e como será a sua implementação na cidade?

Setúbal tem condições naturais únicas para o desenvolvimento dos desportos náuticos de um modo geral. Não me refiro a um plano de água de competição mas sim a um espaço de beleza única, a um clima fantástico e ao facto de ser uma cidade relativamente grande e por isso, à partida, cheia de potenciais praticantes. O nosso objectivos passa essencialmente por criar condições de prática e ligar as pessoas ao rio. Naturalmente, os conhecidos benefícios da prática desportivas são as armas que pretendemos distribuir de forma a contribuir para uma cidade mais activa e saudável. O objectivos é aumentar a taxa de participação desportiva de forma a "recolher" todos os benefícios que estão associados a este aumento.
A sua implementação poderá demorar algum tempo e será certamente gradual. Actualmente temos ajustado a nossa actividade aos recursos que dispomos. A estratégia passa por crescer de forma segura, estruturada e consistente transmitindo segurança e conquistando parceiros e apoios ao longo do nosso desenvolvimento. É isso que tem acontecido o que me deixa muito feliz. É verdade que gostava de ver o projecto andar um pouco mais rápido mas também reconheço que apenas o tempo poderá trazer resultados significativos.

Sonhos para o RCL?

Muitos! :)

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